terça-feira, maio 23, 2006

Homem doméstico - cena 1

- Olha quem acordou. Então moça, dormiste bem? – pergunta José a Rita.
- Sim. – responde Rita com um sorriso e a esfregar os olhos.
- Então o que queres para o pequeno-almoço? – pergunta-lhe José enquanto se dirige para o frigorífico.
- Quero metade de um pão sem côdea, com manteiga e mel e outra metade com chocolate para barrar. Não quero que mistures as duas, como ontem. Quero o leite morno e não quente, sem açúcar e com uma colher de mel e outra de chocolate, na caneca do ursinho e com uma palhinha cor de rosa. Para o lanche da escola quero levar metade de uma pêra e outra metade de uma maçã, descascadas e partidas em bocadinhos pequeninos. – diz Rita, praticamente de um só fôlego.
- Ok. – diz José fechando o frigorifico e dirigindo-se à despensa.
- E se for um pacote de leite com chocolate e bolachas maria? – pergunta depois quando sai da despensa, abanando os mesmos à frente da filha, tentando aliciá-la – Para o lanche levas 50 cêntimos para comprares o que quiseres, desde que não seja porcarias, como chupas e chocolates, isso dou-te eu depois quando cá chegares. Que dizes?
- Está bem. – responde Rita, enquanto se prepara para comer.
- Mas quero o troco de volta, ouviste? – diz José ao mesmo tempo que lhe mostra a moeda de 50 cêntimos e a coloca dentro da mochila de Rita.
- Queres que eu diga à mãe o que me andas a dar de comer ao pequeno-almoço? – diz Rita entre duas trincadelas numa bolacha.
- Bom.....está bem....Então fazemos assim: Dás-me só as moedas claras e as escuras ficam todas para ti, pode ser assim?
- Pode. – responde.
Vira-se depois para José e pergunta-lhe:
- Porque é que agora és sempre tu que me vais levar à escola?
- Porque eu e a mãe decidimos que talvez fosse bom um de nós ficar em casa, a tomar conta de ti e a arrumar as coisas.
- Não acredito em ti. Se fosse assim era a mãe que ficava, porque tu..... – diz Rita olhando depois para a loiça suja amontoada no lava loiça.
- Não comeces com essas coisas. Lembra-te que se fosse a mãe, provavelmente obrigava-te a comer legumes ao pequeno-almoço.
- Tens razão. Ainda bem que és tu. Mas agora já não trabalhas mais? Mandaram-te embora?
- Não sejas tonta. Já te disse que agora trabalho em casa. Não tens que te preocupar com nada. Outra coisa que vou começar a fazer é a dar explicações aos meninos e meninas que não têm boas notas, e os pais deles vão-me pagar para isso. Mas chega de conversa fiada. Toca a despachar porque senão chegamos, mais uma vez, atrasados à escola. – diz José tentando mudar rapidamente de assunto.
Rita acaba de comer e vai lavar os dentes enquanto José vai arrumando, mal, o que ficou sobre a mesa. Começa depois a preparar tudo para lavar a loiça, fazendo uma grande bagunça com água quente, detergente e loiça. Acaba por partir alguns copos cortando-se depois quando tenta apanhar os cacos. Rita vai observando tudo isto, com a escova de dentes na boca e um olhar preocupado. Quando acaba de lavar os dentes, volta para junto de José, o qual está com um guardanapo de papel a envolver-lhe um dedo.
- Tu és um bocado trapalhão. – diz-lhe Rita- Os pais dos meninos pagam-te na mesma se eles continuarem com más notas?- pergunta-lhe preocupada.
- Ó moça. Tu não vês que só sou trapalhão nisto. Preciso de um tempo para aprender a fazer isto como deve de ser. Agora a dar explicações já tenho muito treino. Lembra-te que já dei aulas, por isso não tens que estar preocupada. Ouviste? – diz-lhe enquanto a ajeita e lhe dá um beijo. Dirigem-se depois para a porta da rua.
- Podias treinar a arrumar a casa começando por arrumar o meu quarto. – diz-lhe Rita já despreocupada e com um sorriso, enquanto José abre a porta da rua.
- Isso depende do troco que me trouxeres da Escola. – responde José fechando depois a porta da rua, saindo assim ambos de cena.